Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
20 de Abril de 2024
    Adicione tópicos

    #ABRILindígena: MPF busca reparação pela violação sistemática dos direitos indígenas

    Seminário na PRR3 revela dados sobre o processo de desterritorialização e os caminhos para obter justa reparação do Estado

    há 7 anos

    “Tudo o que queremos é que o Estado reconheça que errou e que o faça de forma coletiva”, reivindicou a líder Krenak Shirley Adilson Silva, que participou na quarta-feira (19) de um encontro destinado a resgatar a história das atrocidades cometidas contra as populações indígenas durante o regime militar.

    “Estamos num momento político e jurídico difícil, daí a razão de uma reflexão mais aprofundada sobre a questão indígena”, explicou o procurador regional da República Paulo Thadeu Gomes da Silva, coordenador do Núcleo de Apoio Operacional à PFDC (Naop), que organizou o seminário.

    No auditório da Procuradoria Regional da República da 3ª Região (PRR3), Shirley relatou emocionada a trajetória de seu povo forçadamente deslocado pelo regime militar de uma região para outra, o sentimento de tristeza de seu avô com o desterro.

    “Estamos num momento político e jurídico difícil, daí a razão de uma reflexão mais aprofundada sobre a questão indígena”
    Paulo Thadeu Gomes da Silva

    Em 1972, o povo Krenak foi transferido compulsoriamente de suas terras para a Fazenda Guarani, localizada no município de Carmésia (MG). Em 1997, a etnia conseguiu recuperar parte do seu território tradicional. O deslocamento forçado impediu que o povo Krenak realizasse seus rituais culturais e religiosos às margens do Rio Doce, além de ter provocado a dispersão de diversas famílias pelo território nacional.

    A criação de um reformatório em Resplendor, onde os Krenak não podiam falar sua própria língua, não podiam dar nomes indígenas aos seus filhos, não podiam manifestar sua própria cultura – era proibido, por exemplo, brincar no rio – e eram submetidos a trabalhos forçados, foi citada pelo procurador regional dos Direitos do Cidadão de Minas Gerais, Edmundo Antônio Dias, como um dos fatos que marcam a violação de direitos dos indígenas.

    #PraCegoVer: foto da líder Krenak Shirley Adilson Silva (Foto: Ascom/PRR3)

    Em dezembro de 2015, o MPF de Minas Gerais ajuizou ação civil pública para que o Estado brasileiro reconheça as graves violações de direito cometidas contra o povo indígena Krenak durante a ditadura militar, adotando medidas de reparação em favor de sua cultura. Na ação, são mencionadas a criação da Guarda Rural Indígena (GRIN), a instalação de Reformatório Krenak, e o deslocamento forçado para a fazenda Guarani.

    Não se trata, entretanto, de tragédia de apenas uma etnia. A violação sistemática dos direitos dos indígenas durante o regime militar é revelada com detalhes no recém-lançado livro “Os fuzis e as Flechas”, de autoria do jornalista Rubens Valente. Nesse trabalho investigativo, Valente entrevistou mais de 80 indígenas, sertanistas, indigenistas, antropólogos e servidores da Funai e acessou centenas de documentos, dentre os quais 180 dossiês produzidos pelo Serviço Nacional de Investigação (SNI).

    #PraCegoVer: foto dos palestrantes (Foto: Ascom/PRR3)

    O jornalista estima que, no mínimo, 1.278 índios foram mortos durante o regime militar, vítimas da política institucionalizada de violação dos direitos indígenas. A construção de rodovias, assentamentos agrícolas e outras grandes obras em terras indígenas, os primeiros contatos com etnias que jamais haviam tido contato com brancos resultou em uma tragédia sanitária, com surtos de gripe, sarampo e outras doenças.

    A antropóloga Tatiane Klein, do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo, ressaltou a preocupação com decisões judiciais nas quais os laudos antropológicos que sustentam os processos de demarcação de terra vêm sendo muitas vezes questionados. A pesquisadora teme que o marco temporal fixado pela Constituição de 1988, em relação à demarcação de terras indígenas, esteja sendo desconstituído.

    Para o procurador da República Julio José Araújo Júnior, coordenador do Grupo de Trabalho dos Direitos dos Povos Indígenas e Regime militar do MPF, o que tem prevalecido nas decisões judiciais é a lógica adotada no período antes da Constituição. “É a lógica de inferiorização dos saberes dos povos indígenas” constatou.

    É o que acontece com as decisões do Supremo Tribunal Federal. Nega-se a historicidade dos conflitos, adota-se a lógica do esquecimento e do pensamento que antecedeu à Constituição, concluiu. Araújo Júnior afirma que o caso Raposa Serra do Sol, referente à decisão do STF sobre marco temporal para a demarcação das terras, é símbolo do atraso da jurisprudência. “É um desafio nosso superar tudo isso”, concluiu.

    Para saber mais:

    - Mapa da violência contra os povos indígenas

    - Artigo:"Violência à vista"

    - Artigo: "A Constituição de 88 não é o marco caracterizador da posse indígena"

    - Parecer sobre o Marco Temporal de 1988

    - MPF/MG: ação pede que Estado brasileiro seja responsabilizado por graves violações de direitos humanos dos Krenak

    Relacionadas
    • #ABRILindígena: Em celebração ao Dia do Índio, MPF em Chapecó promove série de eventos em abril
    • #ABRILindígena: prédio da PGR é iluminado para lembrar direitos dos índios
    • Publicações37267
    • Seguidores708
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações97
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/abrilindigena-mpf-busca-reparacao-pela-violacao-sistematica-dos-direitos-indigenas/451473615

    0 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)